5 de agosto de 2009

Sarney não renuncia e diz que é vítima de campanha da mídia


Em discurso que antecipou a defesa de todas acusações sofridas desde o início de seu mandato, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou nesta quarta-feira, 5, ser vítima de uma campanha para desestabilizá-lo e disse que não renunciará ao cargo.

Sarney sustentou nunca ter cometido nenhum ato que desabone sua história política. "Não tenho senão que resistir, foi a única alternativa que me deram", declarou. O senador afirmou nunca ter se envolvido em escândalo, durante a sua carreira política. Segundo ele, as representações encaminhadas recentemente ao Conselho de Ética "não representam, ilícito".

presidente do Senado apresentou, ainda, uma perícia feita por Ricardo Molina, perito da Unicamp, mostrando que as fitas entregues aos jornais com gravações feitas pela Polícia Federal durante a operação Navalha foram fraudadas. "As fitas entregues as jornais foram fraudadas", afirmou referindo-se a denúncia publicada pelo jornal Folha de São Paulo.

Segundo ele, nestas fitas, há um frase atribuída pelos jornais ao empresário Zuleido Veras que, de acordo com a perícia, teriam sido enxertada na gravação. "Se eu já vi o Zuleido Veras três ou quatro vezes na vida, foi muito. Nunca tive intimidade e ele nunca foi à minha casa", comentou.

Resistência

Ele afirmou que resistir é a única alternativa que possui e que cumprirá seu mandato, iniciado neste ano, até o fim, em 2011. "Todos aqui somos iguais. Nenhum senador é maior do que outro e por isso não pode exigir de mim que cumpra sua vontade política de renunciar", afirmou. "Permaneço pelo Senado para que ele saiba que me fez presidente para cumprir o meu mandato."

O presidente frisou, ainda, que em nenhum momento faltou com o decoro parlamentar e pediu para ser julgado com espírito de justiça.

"Nunca faltei ou faltarei com o decoro parlamentar. Ainda mais eu, cidadão de vida ilibada e hábitos simples. Ter falta de decoro? Acho que ninguém poderia me acusar. Sou vítima de uma campanha sistemática e agressiva", defendeu-se.

E concluiu: "Meu apelo é pela volta de uma convivência pacífica entre nós. Não irei me submeter à humilhação de fugir de minhas responsabilidades".

Apadrinhados

Sobre as acusações de contratação de parentes e apadrinhados, Sarney disse que, quando foi eleito presidente, tinha amigos e que deve a eles zelo, mas que jamais colocou o Senado em segundo plano. "Sou senador, mas envolveram minha família em denúncias que nada têm a ver com o Senado. E acusaram-me em uma campanha pessoal", disse.

Sarney aproveitou o início de seu discurso para relembrar sua trajetória política como ex-presidente da República e governador do Maranhão. Ele fez questão de ressaltar que apoiou Lula durante a ditadura militar, mesmo não o conhecendo pessoalmente na época.

"Quando Lula foi atacado, não o conhecia e, mesmo sendo seu adversário, escrevi um artigo na Folha de S.Paulo defendendo sua biografia com o título 'A Lula o que é de Lula', dizendo que ele não podia ser acusado do que estava sendo acusado", disse. O presidente do Senado disse que hoje apoia o governo do presidente Lula por ter sido convidado pelo petista.

Ele lembrou ainda que, uma semana depois do golpe militar, em clima de grande apreensão e temor, foi o único deputado a defender em discurso na tribuna da Câmara o mandato dos deputados que haviam sido cassados. "Aqui na Casa ninguém pode ser cassado fora dos termos previstos na Constituição", disse Sarney, relembrando seu discurso da época. "Não era fácil naquele tempo tomar uma posição dessa natureza. No AI-5, fui o único governador que não o apoiou", disse.

Estadão

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